Postado por: Mundo Raimundo sábado, 7 de setembro de 2013


 Samy escreve para a coluna Sem Título



A definição mais aceita do termo “fotojornalismo” costuma ser “registro fotográfico feito pelo jornalista para ilustrar, comprovar ou dar veracidade a textos de reportagens”. Contudo, a definição acima poderia muito bem ser uma pergunta. Afinal, o fotojornalismo pode mesmo ser definido dessa forma? Não para Matthias Wähner, artista alemão que curte uma traquinagem. Digo, artista alemão nascido em Berlim, em 1953, formado em Arte, História da Arte, Filosofia e Pedagogia da Arte pela Ludwig-Maximilians-Universität München. As obras de Matthias – tanto a fotográfica quanto a audiovisual e a acadêmica - são uma forma irônica de criticar o fotojornalismo. Seu trabalho mais conhecido é a série Mann ohne Eigenschaften (1994). Esse título, traduzido para o português como O homem sem qualidades, é a apropriação do nome de um livro de Robert Musil. Em tal série, Wähner insere sua figura, por meio da manipulação digital, em fotografias históricas do século XX as quais foram divulgadas na mídia.
Um exemplo é o retrato da Família Real no dia do funeral de Wallis, Duquesa de Windsor, o qual ocorreu na capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, em 29 de abril de 1986. Na fotografia, vemos à esquerda, Príncipe Charles e Princesa Diana; no meio, Matthias; à direita, Rainha Elizabeth e Philip, Duque de Edimburgo. Tal imagem, à primeira vista, não causa nenhum tipo de estranhamento, sobretudo porque Wähner está vestido a caráter – traje, aliás, que ele usa em todas as suas montagens – e não se percebe nenhum erro de proporção.
O artista também se insere ao lado de outras personalidades famosas e ironiza diferentes situações:
Matthias finge ser o quinto integrante dos Beatles;

Observa, à esquerda, o corpo de Che Guevara, morto em 1967;

Passeia de mãos dadas com Brigitte Bardot;

Ajoelha-se ao lado de Willy Brandt, diante do Memorial aos Heróis do Gueto de Varsóvia, em 1970;

Aparece junto com o astronauta Neil Armstrong;

Abana para a multidão junto com John F. Kennedy;

E vejam que maravilha, posa para foto ao lado de Superman.

Se antes os dirigentes soviéticos faziam desaparecer presenças incômodas das fotografias, Wähner faz o oposto: ele é uma espécie de intruso banal que participa da cena, que aparece onde não foi chamado. O trabalho de Matthias é uma crítica à mídia e à credibilidade que lhe é concedida. Além da presença do elemento irônico, a série Mann ohne Eigenschaften visa criar um jogo entre o real e o ficcional.
Joan Fontcuberta publicou, em 1997, o livro El beso de Judas. Fotografía y Verdad, no qual ele afirma que a fotografia, sem exceção, é uma ficção que se apresenta como verdadeira. É necessário que o observador perceba que, ao contrário do que diz o senso comum, a fotografia mente sempre, mente por instinto e mente porque sua natureza não lhe permite fazer outra coisa. É exatamente isso que Wähner demonstra em seu trabalho. As fotografias em tons de preto e branco complementam o artifício documental que valoriza mais a função temporal da imagem. As imagens ironizam a pretensão documental da fotografia. Através desse jogo manipulativo, questões referentes à verdade e à alteração de fotografias documentais em prol da arte são levantadas.

E para quem pensa que a manipulação fotográfica se disseminou somente após a era digital, assista ao curta A lenda do fotógrafo oficial, presente no filme Amintiri din epoca de aur (Contos da Era Dourada, 2009).
* Encontrei somente uma parte legendada em inglês no Vimeo ou inteiro e sem legendas no Youtube.

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